(Cena do dilúvio, 1827, Joseph-Désiré Court)
Quando ouço jovens se declarando conservadores, penso nessa imagem. Gente querendo salvar o passado decadente, ignorando seu presente e condenando seu futuro.
Essa ideia de voltar ao paraíso, voltar a uma vida maravilhosa, mais saudável, mais educada, que simplesmente não existia.
Ouço muita gente reclamando dos problemas modernos, sem se dar conta que eles só existem porque resolvemos muitos problemas antigos, e trabalhamos para resolver outros tantos.
O passado não era um mar de rosas. O passado havia muito mais pobreza, doenças, falta de cuidados, de acesso à saúde, higiene, educação.
Entenda: estamos longe demais do ideal, mas já caminhamos longe demais para querer voltar. À época dos reis, que decidiam a lei à partir de suas vontades e caprichos e se colocavam acima delas. À época do medo travestido de respeito, onde a violência calava aqueles que discordavam ou questionavam. À época do machismo disfarçado de tradição, onde a mulher era submissa ao homem e aquelas que não fossem, eram punidas e envergonhadas publicamente. E principalmente, à uma época quando a dominação do clero impunha com mãos de ferro o que considerava ser a verdade, lançando às piores torturas e ao fogo aqueles que acreditassem diferente.
É hora de abrir os olhos e ver que é tempo de deixar o velho ir e cuidar do que temos, todas as conquistas modernas, de direitos humanos, de educação e entendimento, aprender a lidar com os novos desafios e garantir um futuro mais brilhante e iluminado.
E você, a quem tem estendido a sua mão para salvar? O passado ou o seu presente e futuro?
Um abraço,
Paulo Bomfim
Comments