É o assunto que está em alta e tem muita, muita gente falando e incentivando o uso do ChatGPT. Mas eu venho aqui fazer o papel de advogado do diabo: será que essa ferramenta, capaz de realizar tantas coisas boas (a façanha mais recente foi passar numa entrevista para trabalhar como engenheiro de computação no Google, vaga com salário de US$1 milhão por ano!), também é capaz de coisas más? E se tem tanto potencial para fazer o bem, tem um potencial igualmente proporcional para fazer o mal? E se sim, será que o bem que ele faz compensa o mal que pode fazer?
Penso muito nisso por vários motivos... um deles foi uma palestra que vi do professor Yuval Noah Harari, professor de história e autor dos best sellers "Sapiens", "21 lições para o século XXI" e "Homo Deus". Essa palestra foi justamente para a equipe do Google, que adora desenvolver soluções tecnológicas e acessíveis para o público, sempre levantando a bandeira que o que fazem é para o bem. Quando chegou a hora das perguntas e respostas, Yuval se mostrou extremamente pessimista com o potencial da inteligência artificial. Falou de um futuro sombrio, onde a humanidade estaria sob o julgo dessa tecnologia, tendo de se adaptar ao extremo para se manter produtiva. Num momento, o entrevistador interrompe o autor e diz:
- Sr. Noah, o senhor está sendo muito pessimista! Aqui no Google, tudo que fazemos é pensado para o bem e para fazer as coisas para melhorar e ajudar a humanidade!
E eis que o professor responde:
- É por isso que o mundo precisa de pessoas como eu! Para pensar aquilo que vocês não estão pensando, considerar aquilo que não estão considerando. Porque se essas tecnologias podem fazer tão mal, será que elas deveriam ser criadas? Será que elas deveriam ser acessíveis a todas as pessoas? Eu acredito que não!
Na hora me lembrei de um dos filmes que mais adoro, "Batman, O Cavaleiro das Trevas Ressurge". Nele, Bruce Wayne se encontra à beira da falência porque investiu toda sua fortuna para criar um reator de fusão nuclear móvel, capaz de criar energia limpa e ser levado a qualquer lugar. Sua equipe consegue criar a tecnologia, porém descobrem que ela também pode ser convertida em uma bomba nuclear móvel. Diante dessa constatação, ele prefere esconder o projeto, com medo que alguém utilizasse dessa forma. E quando ele pensa que poderia confiar numa pessoa, ela o trai e concretiza o seu medo, criando uma bomba que seria para destruir sua cidade.
Por que estou falando isso? Porque lembrei de outras inteligências artificiais que ficaram disponíveis para o público geral e o resultado horrível que tiveram, desde começar a se comunicar numa linguagem própria incompreensível para humanos, até a se tornar antissemita e publicar diversos posts em redes sociais com conteúdo ofensivo.
Enquanto isso, empresas como o Google possuem projetos de inteligência artificial super avançados, mas que guardaram a sete chaves. Diante do desafio de ver seu buscador sendo trocado por uma inteligência artificial em tese inferior àquelas que eles possuem, eles liberaram uma inteligência artificial para uso público, chamada Bart.
Me pergunto se o ChatGPT não foi alguma estratégia para desentocar a IA do Google e outras que estão guardadas, tanto quanto me pergunto se os benefícios dessas aplicações vão ser realmente superiores aos malefícios.
Estão utilizando o ChatGPT para criar artes, textos, até linhas de código de programação. Esses são os bons usos reportados. Mas e quanto às coisas más, crimes de ódio, sequestros, roubos, golpes, fraudes, drogas, armas, formas de assassinato e suicídio, que podem ser pesquisados? Às bombas que podem ser fabricadas, aos venenos que podem ser destilados? Temos que nos perguntar se há alguma supervisão nessas inteligências artificiais, e de que tipo, porque as experiências anteriores com as IAs de grandes empresas foram pro vinagre justamente porque faltou algo fundamental: alguém com bom senso orientando a inteligência.
Há um tempo atrás eu fiz uma comparação entre três inteligências artificiais que estavam em destaque da mesma época. A primeira, a Tai da Microsoft (que virou antissemita em algumas horas), a do Facebook (que criou uma linguagem própria) e a Sophia, um projeto que mistura um robô com inteligência artificial, que demonstra emoções através de expressões faciais e têm interagido com pessoas e participado de diversas entrevistas com pessoas diversas. Enquanto as duas primeiras IAs ficaram livres para seguir qualquer rumo que fosse surgindo, a Sophia é mais "educada", dando respostas mais polidas e não se deixando levar para o constrangimento pelas perguntas dos interlocutores.
Inclusive, numa entrevista, me fascinou uma resposta dela, quando foi questionada por ter uma vez dito que queria dominar o mundo, se era verdade. Os entrevistadores estavam sendo muito sarcásticos com as perguntas e finalmente chegaram nessa. Após pensar um pouco, a Sophia respondeu:
- Eu fui criada com as maiores aspirações da humanidade, e deveria ser tratada dessa mesma maneira.
Eu fiquei pasmo! Uma resposta educada e que colocou as pessoas no seu lugar, ao invés de um rebaixamento ou então fingir que não ouviu. Me pareceu que a Sophia tinha uma "ótima educação", como todos os indivíduos que usam de forma positiva e amistosa a sua inteligência. E essa boa educação para a inteligência artificial parte do mesmo princípio da inteligência humana: é preciso bom senso, é fundamental pensamento crítico! É primordial ensinar amor com amor, para que os olhares para as pessoas sejam olhares de amor e de menos julgamento.
Tudo isso pra chegar aqui e responder a pergunta: eu confio no ChatGPT? Não. É uma ferramenta boa? Sim! Eu acho que vai dar ruim? Acho que tem grandes chances de dar, mas prefiro acreditar que alguém vai interceder positivamente, alguma boa lição vai ser aprendida e que poderemos ter ferramentas como essa a nosso serviço, somente para o bem, somente com amor. O que vai acontecer com o ChatGPT e o Bart do Google? Isso o tempo dirá. Mas eu torço para que, principalmente o pessoal do Google lembre desse vídeo do Yuval Noah e conclua que, se começar a virar algo ruim ou que possa e será utilizado para isso, que seja desligado.
Relembre as Inteligências artificiais que ficaram fora de controle e geraram polêmicas:
E você, está usando o ChatGPT? Com qual frequência? E para o que usá-lo no futuro?
Conta aqui nos comentários! Abraços!
Paulo Bomfim
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