Outro dia eu assisti um trecho de uma entrevista com o Russell Crowe, ator premiadíssimo que explodiu nos cinemas no papel de Maximus, no filme Gladiador, do cultuado diretor Ridley Scott. Nessa entrevista, ele falava que estava ali, se preparando pra primeira cena, que é uma batalha épica, impressionado com o tamanho de tudo aquilo, quando o diretor o chama e diz que queria filmá-lo como se ele contemplasse a paisagem tranquilamente, se preparasse pra sair e de repente, visse um pássaro numa árvore que o fizesse sorrir. Depois, esse pássaro voaria e ele acompanharia o pássaro voando para longe e então voltaria os olhos para o campo de batalha, se enchendo novamente de preocupação.
Ele comentou que foi até onde disseram e foi atuando, se lembrando de fazer cada uma das coisas que o diretor lhe pediu. Quando o diretor disse "corta", andou até o Russell e disse: "meu amigo, nós vamos fazer muitas coisas grandes juntos!"
Numa outra entrevista, o ator Robert Pattinson, que recentemente fez o filme The Batman (que eu fiz um artigo a respeito!), falou sobre algo que aconteceu quando estava gravando o filme que o lançou ao mundo, a saga Crepúsculo. Ele comentava que discutia muito com o diretor porque ele não concordava como as cenas com ele deviam ser conduzidas, e tentava mudar falas e atuações o tempo todo. Ele dizia que se sentia bem, até um dia que percebeu que o diretor estava muito bravo e o chamou para uma conversa e disse: "essa é a cena que você tem que fazer, essa é sua fala e não quero que você mude nada, estamos entendidos?" E foi aí que ele percebeu que poderia ser demitido, porque não estava entregando o que era pedido e ainda causava desconforto e discórdia o tempo todo para o diretor.
Por um lado, pensando nos tempos atuais e em como as pessoas querem ter liberdade para atuar e agir, fica muitas vezes a ilusão de que somos contratados para fazermos as coisas como achamos melhor. Que bons gestores, bons líderes, são aqueles que nos deixam em paz para trabalhar como achamos apropriado e como bem quisermos, entregando as coisas no tempo e jeito que acharmos melhor.
Não é bem assim.
Um papel fundamental de uma boa gestão é ter critérios claros sobre prazo, custo, qualidade e rentabilidade dos trabalhos que precisam ser feitos. Atender esses critérios é primordial pra existência de qualquer negócio, pois é assim que se mantêm contratos e lucratividade necessária para se conduzir um negócio competitivo.
Da mesma forma, um bom líder cuida de ter uma visão clara do que deseja e de comunicar essa visão, ao ponto de inspirar as pessoas a enxergar a mesma coisa e buscar, com suas competências, realizá-la assim como foi concebida.
Dito isto, tem que ficar claro aqui, principalmente para quem trabalha sob a supervisão de alguém, ou seja, qualquer pessoa, que entregar o que é pedido é fundamental. Meu mentor Roberto Shinyashiki me disse certa vez: "Paulo, se te contratarem para fazer um bar, entrega um bar, não uma padaria. Você pode até achar que uma padaria é melhor, e com o que tem é possível fazer uma padaria, mas faz o que te pediram, entrega o bar."
Num primeiro momento, o que parece ser um tolhimento, ou seja, os gestores querendo minar a criatividade da equipe, é justamente o contrário. E pra dar uma perspectiva sobre isso, basta imaginar que fosse o contrário: você contrata um pedreiro pra fazer uma obra na sua casa, pede que ele construa uma copa num determinado lugar. Mas o pedreiro acha que ali deveria ser um banheiro, que seria mais útil e que seria mais bonito. E você, que vai pagar o material e o serviço do cara, que vai morar na casa, tem que ficar convencendo o seu funcionário que não é isso o que você quer ao ponto de dizer: olha, ou você faz o que estou te pedindo ou vou achar quem faça! É o que aconteceu com o Robert Pattinson! O diretor do filme precisou dar um ultimato a ele, colocá-lo no seu lugar.
Vê, não se trata de não ouvir sugestões. Aliás, eu muito recomendo você dar sugestões e opiniões, até porque realmente, uma informação que o seu cliente ou gestor não tenha pode ser crítica para decidir se avança ou cancela um projeto. Por outro lado, é importante você aprender o que já é conhecido sobre o tema, para não chover no molhado e parecer simplesmente querer não fazer o trabalho.
O exemplo do Russell Crowe mostra que deixar um cliente feliz, por ver realizado aquilo que ele pagou pra ter é fundamental. E o do Robert Pattinson, de perceber que está atrapalhando e que mudar sua atitude é importante para continuar trabalhando, deve valer demais para nós também.
E você, o que pensa sobre isso? Você entrega o que é pedido ou tenta mudar um pouco as coisas? Você opina ou trabalha sem questionar? Você sugere coisas e fica bem quando é voto vencido ou emburra e desiste?
A sua forma de responder a isso pode dizer muito sobre o seu estado profissional atual. Como está você?
Um abraço,
Paulo Bomfim
P.S.: Pra ler o artigo que eu te comentei que escrevi sobre o The Batman,
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